quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Afronta!

Isto que vou dizer poderia ter acontecido de uma forma bem descontraída numa mesa de um café. Mas isso não foi possível, não porque não houvesse vontade da minha parte mas pelo facto de as pessoas se acomodarem apesar do incómodo que tal situação provoca. O mindelense, dado ao comodismo que lhe está bem entranhado, escuda-se numa falsa descontração que chega a ser repugnante e fastidioso. O sãovicentino prefere brincar ao invés de pensar. São sinais de uma sociedade cada vez mais fútil, folclórica e folclorizada. O cerne da questão é o seguinte: O Centro Cultural do Mindelo, que tinha por obrigação apoiar os grupos teatrais, formou um grupo de teatro – o GTCCM (Grupo de Teatro do Centro Cultural do Mindelo). Isto é de se bradar aos céus!

Inveja, ciumes, agoiro, azia (Não! Não se preocupem! Não me movi por nenhum deles.)
Então, qual o porquê desse meu desagrado? Qual a razão do aparecimento do GTCCM?

Trata-se de uma situação deveras intolerável e que não pode e nem deve passar incólume aos olhos de quem quer ver e, evidentemente, daquele que se sente incomodado. Possivelmente trata-se do resultado de um já muito badalado choque de egos/confronto de cabecilhas devidamente identificadas que de tanto serem conhecidas e reconhecidas não precisam ser aqui ementadas. E, mais uma vez, o "povo", é enganado e escamoteado através de um discurso lisonjeiro por parte de manipuladores com a nítida intenção de obter favores. Esses cabeças, para atingirem os seus fins, transformam qualquer matéria-prima em arma. Aproveitam-se desses alucinados/ deslumbrados e iludem-nos. Esses comandados, de forma consentida ou disfarçada, abraçam projectos aparentemente desinteressados e ingénuos.Provavelmente foi isso que aconteceu.
Por favor, belisquem-me!

Eu não sou contra a criação de um grupo de teatro mas discordo totalmente com a institucionalização de um grupo de teatro por parte de um organismo que o não deveria fazer. Já temos um exemplo em São Vicente, embora os casos sejam totalmente diferentes e em relação ao outro se compreenda os motivos.
Isto indigna-me. É uma afronta!

Até parece que o recém-criado grupo, o GTCCM, se quer ombrear com o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo (GTCCPM).
A semelhança entre eles é que ambos representam instituições. Nada tenho contra os seus integrantes. Sou amante do teatro/agente teatral por isso outra atitude não se esperaria da minha parte.

Não pensem que o que digo é desprovido de razão, pois vejamos:
Como é que se divide o “bolo teatral” em São Vicente?
Não se divide aquilo que não existe.
Qual a política teatral vigente em São Vicente?
Não há.
Como é que se sentem os grupos de teatro em São Vicente?
Desamparados. (Por um lado, a Associação Mindelact não existe e por outro o Centro Cultural do Mindelo criou um grupo de teatro)
Será que todos os grupos têm as mesmas regalias, as mesmas oportunidades?
Não.
Será que o GTCCM paga pela realização de espectáculos no Auditório do CCM?
Creio que não.
Será que os outros grupos pagam pela montagem e realização de espectáculos no Auditório do CCM?
Sim.
Quem ganha com a criação do GTCCM?
Poucos (já identificados)
Quem perde com a criação do GTCCM?
Muitos (já identicados) e poucos (por identificar).

A cada dia que passa fico mais ciente que Cabo Verde se torna mais para menos pessoas.

É óptimo saber que o Centro Cultural do Mindelo se preocupa com o teatro!

Valódia Monteiro
Publicado no jornal “A semana” ( 23- 07-2010)

1 comentário:

  1. Esta é uma ferida que não sara no palco nem nos bastidores. Uma "afronta" eis a questão. Enquanto isso os "pequenos grupos" vão ficando putrefactos no seu cantinho.

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